segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tempestade no Alto Minho

A viagem, debaixo de uma intensa tempestade, culminou com uma entrada naquela que parecia uma aldeia fantasma, em face de um apagão daqueles à moda da cegonha.
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Procurar a fechadura às apalpadelas e experimentar uma das inúmeras chaves. A coisa começava a compor-se: acertei à primeira e transpus a porta, passando da noite para o breu. Com a luz do telemóvel como única fonte de luminosidade, abri gavetas e revirei armários até encontrar fósforos e duas velas. Chamei o pessoal e acendemos a lareira. Felizmente o fogão era a gás, e pudemos fazer um arrozinho de tomate para acompanhar os panados que já vinham prontos do Porto, tudo regado com Duque de Viseu.
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Instalamo-nos todos em torno da lareira, onde fomos jogando e beberricando até, já bem perto da meia-noite, sermos surpreendidos por uma repentina e quase sacrílega luminosidade: finalmente havia electricidade. Corremos para os quartos, fizemos as camas e ligamos os aquecedores no máximo; e em boa hora o fizemos, pois a luz haveria de fugir e voltar várias vezes ao longo da tempestuosa noite.
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O sábado amanheceu inesperadamente solarengo, se bem que com as marcas da tempestade bem espelhadas nas dezenas de laranjas que cobriam o quintal e pela vasta colecção de diferentes tipos de folhas que cobriam os nossos carros. Colocamos o peru (que já estava temperado de véspera) no forno e rumamos a Ponte do Lima, para um belo descanso activo pelas ruas daquela magnífica vila.
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De regresso à aldeia e após o repasto, acompanhado por um belo Mazouco, seguiu-se um passeio higiénico pela mata, para facilitar digestões e respirar um pouco de ar do campo. O resto da tarde foi passada em reclusão, apenas com a companhia de um salpicão e de umas pretas frescas, em reunião preparativa daquela que será a verdadeira aventura dos Leões de Kantaoui em 2009 – a Maratona de Boston. Como metade da equipa mora a 300km de distância da outra metade, teremos que, a partir de agora, aproveitar todos os encontros para acertar pormenores.
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No final da tarde fomos a Viana do Castelo, recolher os dorsais e regressamos para a nossa personal pasta party, acompanhada de Adamado de Ponte do Lima. A prova era já no dia seguinte, pelo que era melhor abandonar o maduro tinto e passar para o verde branco.
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De noite não ouvi chover, pelo que erradamente assumi que estaria um magnífico tempo para a prova. Tão depressa abri as portadas da janela do meu quarto como elas se fecharam entalando-me o braço direito. Não foi preciso muita ponderação para que o pessoal da caminhada optasse por passar a manhã de domingo em volta da lareira.
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Os dois bravos lá partiram para Viana, com a sensação de que o carro teria pelo menos um dos pneus furados, tal era o vento que se fazia sentir (o boletim meteorológico tinha anunciado ventos de 120 km/h).
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Ainda hoje estou para perceber se choveu ou não. De facto havia muita água no ar, mas ela parecia mais soprada pelo vento, que a ia buscar ao rio, às poças de água, ao chão, aos telhados, eu sei lá, do que propriamente caída do céu. Vento, meus amigos, vento havia para dar e vender.
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Fizemos a maior parte do aquecimento num estacionamento subterrâneo (isto começa a tornar-se um hábito) e lá vínhamos cá acima de vez em quando para espreitar o tempo, e logo voltando para a toca, quais suricates em dia de Inverno. Quando finalmente saímos da lura encontramos uma data de pessoas amigas, dos Leões do Veneza, dos Portorunners e muitos outros, mas só tiramos uma foto com o Mark, pois a máquina já estava guardada no carro. Foto essa que se viria a revelar como um verdadeiro talismã, na medida em que todos batemos recordes pessoais.
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A dureza da prova ficou bem patente nas palavras saídas dos altifalantes que preveniam para estarmos bem atentos às indicações dos delegados da prova, na medida em que as marcações haviam sido levadas pelo vento. Lá partimos debaixo de um vendaval indeciso, sempre soprando com intensidades e direcções diferentes, cada um para fazer a sua corrida. Até à viragem, nos 11km, a coisa ainda foi, com os meus quilómetros a variarem dos 4:10 aos 4:25; mas a partir daí, mal rodei o bidão fiz dois kms seguidos a 4:50. Nessa altura deixei de pensar em recordes e a partir dos 13km comecei mesmo a contar os quilómetros. O 14º foi feito inesperadamente a 4:15 e voltei a ganhar alento, saltando de grupo em grupo, sempre entretido a ouvir falar galego (36% dos atletas a completar a prova) e a fazer contas de cabeça, oscilando muito nos kms, mas nunca mais passando acima dos 4:30.
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Quando o GPS apitou para os 20kms gastei as últimas forças para, contra o vento, fazer o meu km mais rápido de toda a prova a 4:03, e terminando com um tempo oficioso de 1:34:04, que oficialmente passou a 1:34:29, por causa da habitual demora a cruzar a linha de meta no início da prova. Na meta já me esperavam os meus amigos Paulo Martins, com tempo oficial de 1:30:42 e Mark Velhote, com 1:31:24. De registar que o meu GPS (e os de mais 2 amigos com quem confirmei) assinalou mais 215m, o que daria menos um minutito, mas enfim, sempre baixei 2 minutos e meio o recorde anterior. Os meus dois amigos, esses nem se fala, bateram em muito os seus anteriores recordes.
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Para o ano cá estaremos, ou talvez não ...
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20 comentários:

MPaiva disse...

João,
Com os depósitos atestados com tanta e tão boa "gasolina" nos dias anteriores à prova, só podia mesmo saír record!
Ontem fiz um treininho de manhã em Vila do Conde, junto à praia, e lembrei-me muito de vós. A areia que andava no ar era tanta e voava com tanta velocidade que até doia ao bater nas pernas, na cara e na careca! Por isso, imagino bem o que tereis sofrido na prova, o que ainda valoriza mais os tempos conseguidos.
Muitos parebéns!

abraço
MPaiva

João Paulo Meixedo disse...

Obrigadão, Miguel; foi mesmo duro, mas valeu a pena, e não vai ser por menos 30 segundos ou um minuto no recorde pessoal seja de que distância for que vou deixar de ser um bom garfo ... e faca ... e copo. ;)
Abração.

MPaiva disse...

João,
Quando puderes manda-me o teu mail que tenho uma coisa para te oferecer!
MPaiva

joaquim adelino disse...

Eu li tudo e não me fartei.
Parabéns pelo estágio, pela prova efectuada e pelo record.
Nunca fiz a prova mas conheço Viana, deve ser uma prova realizada em ambiente muito bonito e com paisagens magníficas.
Um dia eu vou lá.
Agora boa recuperação e Lisboa já está aí com a sua Meia.
Um abraço.

luis mota disse...

Olá João!
Com as condições atmosféricas desse dia terem conseguido melhorar as vossas marcas é muito bom.
Parabéns aos leões e ao dragão pelos resultados obtidos.
Como disse ao MarK, aproveitem a Meia de Lisboa e certamente teremos ainda melhores resultados.
Grande abraço,
Luís mota

Anónimo disse...

Mais um fim de semana de actividade atleturisticogastonomica, se tens arriscado no principio da prova e estavamos eu tu e o velhote com tempos semelhantes mas enfim
és um rapaz que n gosta de dar nas vistas... como vez agora a meia de lisboa ta aí tens mesmo de vir

abraço

Unknown disse...

Ola joao.

Com as condições que estavam, e uma disposição como o joao tem, é obra. parabéns pela prova e pelo tempo realizado.

Mark V disse...

João,

Além de teres jeito para a culinária, também tens jeito para a escrita!
Este relato dá gosto de ler meu amigo e muito honrado me sinto por nele constar!
Foi um prazer juntar-me à "lagartage de Kantaoui" e apesar da ventania o facto da prova ter corrido bem fez com que ficasse cliente!
Se tívessemos planeado melhor acho que também tinhas vindo dois ou três minutos para cima! Esses sprints finais são de fazer inveja ao Usain Bolt ! :)
Em Lisboa tratamos da tosse a estes records!

Abraço

João Paulo Meixedo disse...

Obrigado pelas palavras e pela paciência, amigo Adelino :)
Planeio ir a Lisboa mas se calhar vou aos 20km de Cascais no dia 22 de Fevereiro.
Grande abraço,
JP.

João Paulo Meixedo disse...

Obrigado Luis.
Vamos ver, vamos ver. Se calhar irei aos 20km de Cascais (pena que não seja uma meia, mas enfim).
Abraçôm

João Paulo Meixedo disse...

Pois, Paulo, parece que estou mesmo a ser intimado.
Vou começar as negociações ;)
Abraçôm ó companheiro.

João Paulo Meixedo disse...

Obrigado, amigo Carlos, um tipo ou anda nisto pela festa, ou então anda ao engano :)
Grande abraço.

João Paulo Meixedo disse...

Ainda bem que gostaste de ler, Mark; eu por acaso sou adepto dos posts mais concisos, mas era difícil espremer 3 dias em menos texto.
Quanto à melhoria dos meus tempos, tu é que és um gajo simpático, mas nunca se sabe :)
Aquele abraço.

Anónimo disse...

Olá João
parabéns pelo record e pelo relato, muito bom mesmo.
Continuação de bons treinos e provas.
António Almeida

Jorge Cerqueira disse...

João Parabenizo vc por mais uma prova feita para seu curriculo esportivo, mesmo com esta tempestade vcs não esmoreceram e foram lá e mandaram ver.
Um abraço,

JORGE CERQUEIRA

João Paulo Meixedo disse...

Obrigo amigo António, mas ecrever bem é mais aí para os lados de Corroios ;)

João Paulo Meixedo disse...

Obrigado, Jorge, o pessoal aqui já está habituado com mau tempo, e se fosse deixar de praticar desporto por causa disso então eram 4 ou 5 meses parados.
Abraço.

Nuno disse...

Boa noite Jorge
Parabens pela prova e por ter conseguido ultrapassar a intempéria...
Essa zona é muito bonita, mas já algum tempo que não vou para esses lados. Só mesmo no Porto. Acho que a ultima vez que corri por essas bandas foi no tempo da escola. Corri em VIla Nova de Cerveira o Nacional de Corta Mato Escolar, isso já foi há anos......
Um abraço e bons treinos

Nuno disse...

Desculpe João, por ter trocado o nome....já são muitos bloguistas.......
Um abr

João Paulo Meixedo disse...

Não tem problema, Bruno, volta sempre ah ah ah ah ah.
Um abraço, Nuno.