segunda-feira, 24 de outubro de 2011

À terceira não foi de vez


Quase meia-noite e o sono não vem


A ansiedade é grande.


Ainda tentei convencer os meus companheiros de abrigo a aviar uma de verde branco com a massa do jantar, para relaxar desassossegos, mas fui pouco persuasivo.


O Luís recolheu-se cedo e ao Vitor ainda o retive até às onze. Depois, no silêncio da noite da aldeia, rapo do livro de cabeceira e procuro algo que me acalme as emoções. Lá acabo por embalar.


“– Sim, estou melhor, obrigado por perguntares … e desculpa

ter-te tratado por tu sem termos sido apresentados, embora sinta que te conheço há muito”


“– É a melhor maneira de o fazeres, sou apenas mais um maluco que anda aqui a correr à chuva no meio do monte”, retorquiu o João Garcia.


Não deve haver muitos desportos em que os atletas amadores tenham a possibilidade de conviver com aqueles cujos feitos admiram e cujas aventuras acompanham como suas. Aqui estava eu à conversa com o responsável por na véspera ter apagado a luz já bem próximo da uma da manhã.


Esta troca de palavras deu-se debaixo de uma indescritível invernia, durante um trote ao longo da estrada que liga S. Lourenço da Montaria a Dem, após ter-nos sido barrado o caminho ao quilómetro vinte, devido às condições atmosféricas no alto da Sra. Do Minho.


Para quem após duas curtas experiências de trail preparava a estreia na maratona de montanha, para quem conduziu centenas de quilómetros, para quem veio de véspera, para quem trocou vale de lençóis na primeira noite fria do ano para estar no meio da serra ainda de noite e debaixo de um céu carregado, para quem … tudo e mais alguma coisa, é indescritível o desapontamento ao ver-se abruptamente impedido de concretizar um sonho que já ia a meio e para o qual treinou dezenas de vezes e com o qual sonhou ao longo de meses …


… todavia, meus amigos, não haverá ninguém mais inconsolável do que quem abdicou de horas de treino, de repouso, de convívio com a família ou de simples ripanço para, com grande esforço, por de pé um sonho antigo. A decisão da Organização não foi seguramente fácil nem tomada de ânimo leve. A minha solidariedade vai toda para aqueles que tudo fizeram para nos prestar o melhor dos apoios.

Abre lá as inscrições para 2012, Carlos, que a malta está à espera.


à partida tudo são sorrisos ...


... e à chegada também.