Depois de uma semana de calor e
céu azul eis que o dia nasce cinzento e chuvoso. Seria o meu último dia em
Velenje, o sexto consecutivo sem calçar sapatilhas, e uma das poucas vezes em
que visitaria um país sem que registasse um único treino no meu garmin.
Decidido a contrariar o destino,
tomo um rápido pequeno-almoço, dou um salto à faculdade para delinear com os colegas
as estratégias para a redacção final do relatório e informo-os de que terei que
ir fazer as malas e responder a uns emails e que estarei de volta pelas 10:30.
Dou um salto ao hotel, calço as
sapatilhas e esgueiro-me por ruas secundárias em direcção ao lago, que alcanço
em pouco mais de 10 minutos. Ao contornar o estádio municipal para entrar no
parque da cidade deparo-me com uma multidão de corredores, absolutamente
inesperada em face do que eu tinha visto ao longo da semana: ninguém a correr.
Havia uma bifurcação e o grosso
do pelotão segue por um dos caminhos, sendo que eu de imediato opto pelo outro,
para poder correr de forma mais desafogada. Apercebo-me, entretanto, que se trata
essencialmente de atletas do sexo feminino e que correm a um ritmo lento.
Calmamente lá as vou
ultrapassando uma a uma até que finalmente me encontro a correr completamente
sozinho, com o caminho sobranceiro ao lago todo por minha conta.
Inesperadamente, ao desfazer uma
curva, deparo-me com 3 fotógrafos que disparam desesperadamente na minha
direcção, vejo o estádio a aparecer na minha frente, ouço um speaker a
pronunciar frases imperceptíveis e eis que surge um meta diante dos meus olhos. De
repente apercebo-me do contexto e em fracções de segundos tomo a decisão de
passar ao lado da meta e continuar a contornar o estádio. Passados uns 100m
estou de novo na tal bifurcação que tinha separado os dois grupos. Agora, sem
multidão a tapar-me as vistas, vejo uma pequena seta com a inscrição “8 km” apontando
para o caminho que há uns 2kms eu não tinha tomado. Opto agora por este percurso
e corro sozinho ao longo de 8km, até que regresso de novo à meta, que agora
resolvo atravessar para poder ter acesso à água, que de imediato cuspo quando
meto a garrafa à boca pois a malta, por estas bandas, só bebe água com gás.
Regresso rapidamente ao hotel, feliz
por ter desenferrujado as pernas e divertidíssimo com os acontecimentos: em
menos de uma hora tinha feito duas corridas consecutivas, tendo ficado em
primeiro numa e em último noutra.