AVISO À NAVEGAÇÃO:
O post é muito longo. Para leitura telegrámica queira, por favor, deslocar-se de imediato até ao ante-penúltimo parágrafo, directamente, sem passar pela casa de partida e receber dois contos. Ou então passar mesmo ao blog seguinte.
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Doem-me as pernas. Doem-me agora como me doíam no princípio deste treino de 11 km, iniciado às 2 da tarde. Nada que seja, no entanto, de estranhar para quem se deitou à uma da manhã e se levantou às 7 da matina, para trabalhar toda a manhã; isto depois de ter trabalhado tarde e noite anterior até às 23:30; tudo isto, claro está, após ter chegado a casa no início da tarde e na sequência de um período de 32 horas sem pregar olho, iniciado escassas horas após ter corrido uma maratona.
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Bom, isto já está a ficar muito confuso; o melhor é começar pelo princípio. O princípio mesmo foi quando ainda em 2008 me inscrevi para a Maratona de Boston, mas isso já vocês sabem. Não é necessário recuar tanto. Vamos apenas até sábado passado, quando após uma feijoada no Núcleo Sportinguista de New Bedford, nos convenceram a participar numa corrida de beneficência a ter lugar no dia seguinte (véspera da maratona!).
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Doem-me as pernas. Doem-me agora como me doíam no princípio deste treino de 11 km, iniciado às 2 da tarde. Nada que seja, no entanto, de estranhar para quem se deitou à uma da manhã e se levantou às 7 da matina, para trabalhar toda a manhã; isto depois de ter trabalhado tarde e noite anterior até às 23:30; tudo isto, claro está, após ter chegado a casa no início da tarde e na sequência de um período de 32 horas sem pregar olho, iniciado escassas horas após ter corrido uma maratona.
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Bom, isto já está a ficar muito confuso; o melhor é começar pelo princípio. O princípio mesmo foi quando ainda em 2008 me inscrevi para a Maratona de Boston, mas isso já vocês sabem. Não é necessário recuar tanto. Vamos apenas até sábado passado, quando após uma feijoada no Núcleo Sportinguista de New Bedford, nos convenceram a participar numa corrida de beneficência a ter lugar no dia seguinte (véspera da maratona!).
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Percorri esses 5 km nuns modestos 21:40, que deram ainda assim para me classificar em 41º da geral de entre 414 competidores. O Paulo, esse preferiu acompanhar a esposa, que se iniciou há pouco no mundo da corrida. Na verdade a minha mulher também correu, participando assim pela primeira vez numa prova oficial, sendo que a acompanhei na última milha, porque mal cortei a meta corri em sentido contrário para lhe prestar esse apoio. Já agora, deixem-me dizer-vos que o meu miúdo, de apenas 7 anos, também participou num prova de cerca de 200 metros, tendo-se classificado em 4º lugar.
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Percorri esses 5 km nuns modestos 21:40, que deram ainda assim para me classificar em 41º da geral de entre 414 competidores. O Paulo, esse preferiu acompanhar a esposa, que se iniciou há pouco no mundo da corrida. Na verdade a minha mulher também correu, participando assim pela primeira vez numa prova oficial, sendo que a acompanhei na última milha, porque mal cortei a meta corri em sentido contrário para lhe prestar esse apoio. Já agora, deixem-me dizer-vos que o meu miúdo, de apenas 7 anos, também participou num prova de cerca de 200 metros, tendo-se classificado em 4º lugar.
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Mas tudo isto é pormenor (para vocês, porque para mim é motivo de grande orgulho ver a família alinhar nestas lides). O que eu vos queria contar era que no lanche/almoço que se seguiu (e que rico manjar; nunca vi nada parecido em provas portuguesas) conhecemos um luso-descendente, presidente do Greater New Bedford Track Club, o Fernando que, tal como outros presentes, se preparava para no dia seguinte correr a Maratona de Boston. De imediato combinamos viagem para Hopkinton (local de partida) no autocarro do clube.
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Acordar às 4:30 da matina, para estar no local combinado uma hora depois. 5:20, 5:25, 5:30, 5:35, 5:40, nem autocarro, nem camioneta, nem carro, nem cão, nem gato … arrancamos e fomos espreitar um pouco mais à frente. Lá estava o maralhal. Afinal não era no parque de estacionamento do Burger King, mas sim no do Mc Donalds, ou ao contrário, sei lá; para mim um hambúrguer é apenas um hambúrguer e quero distância deles nos próximos tempos.
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Havia tipos de almofada e saco-cama e cedo percebi porquê. Havia também membros do clube Mountain Milers, do Arizona. Após chegada ao local da concentração por volta das 7:00 – onde teríamos que esperar até às 10.30 – e termos saído para uma volta pela athletes village para ambientação e recolha de víveres, regressamos gelados ao quentinho do autocarro, onde ainda chegamos a tempo de testemunhar um acontecimento curioso: um pedido de casamento de um rapaz à sua namorada, ambos maratonistas, que incluiu anel solitário e tudo. Em seguida sacou de 2 enormes autocolantes com os dizeres “just engaged”, para colar nas respectivas camisolas.
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Mas tudo isto é pormenor (para vocês, porque para mim é motivo de grande orgulho ver a família alinhar nestas lides). O que eu vos queria contar era que no lanche/almoço que se seguiu (e que rico manjar; nunca vi nada parecido em provas portuguesas) conhecemos um luso-descendente, presidente do Greater New Bedford Track Club, o Fernando que, tal como outros presentes, se preparava para no dia seguinte correr a Maratona de Boston. De imediato combinamos viagem para Hopkinton (local de partida) no autocarro do clube.
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Acordar às 4:30 da matina, para estar no local combinado uma hora depois. 5:20, 5:25, 5:30, 5:35, 5:40, nem autocarro, nem camioneta, nem carro, nem cão, nem gato … arrancamos e fomos espreitar um pouco mais à frente. Lá estava o maralhal. Afinal não era no parque de estacionamento do Burger King, mas sim no do Mc Donalds, ou ao contrário, sei lá; para mim um hambúrguer é apenas um hambúrguer e quero distância deles nos próximos tempos.
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Havia tipos de almofada e saco-cama e cedo percebi porquê. Havia também membros do clube Mountain Milers, do Arizona. Após chegada ao local da concentração por volta das 7:00 – onde teríamos que esperar até às 10.30 – e termos saído para uma volta pela athletes village para ambientação e recolha de víveres, regressamos gelados ao quentinho do autocarro, onde ainda chegamos a tempo de testemunhar um acontecimento curioso: um pedido de casamento de um rapaz à sua namorada, ambos maratonistas, que incluiu anel solitário e tudo. Em seguida sacou de 2 enormes autocolantes com os dizeres “just engaged”, para colar nas respectivas camisolas.
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Após salva de palmas e parabéns por parte de todos os presentes perguntei ao noivo se ele teria condições para correr a maratona no caso de a noiva ter recusado o pedido, e se tinha na mochila um autocolante a dizer “just dumped”. Gargalhada geral e comentário do motorista, também maratonista, o italiano Joe: this portugueses are all comedians.
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No autocarro conhecemos um outro membro do GNBTC: um americano residente em Lisboa que é nada mais nada menos do que o editor em Portugal do Dean Karnazes e que quando soube que eu era português me disse: “já sei de onde me lembro da tua cara; na vépera da Maratona do Porto compraste-me um livro do Dean. Ias com uma criança pela mão”. Pôrra! Ele há gajos com memória de elefante; ou então foi o único livro que vendeu :)
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Disse-me que vai editar em português o DVD do Karnazes e garantiu-me que podemos contar com eles – Peter Cooper e Dean Karnazes – na próxima edição da Maratona do Porto.
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Mais uma banana, mais um café, mais uma mijinha, mais um gatorade, mais uma barrinha, mais uma foto, mais uma conversa e lá chegaram as 10:00h – hora de partida dos 14.000 atletas que se qualificaram.
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Às 10:30h, enquanto esperava juntamente com os outros 13.000 não qualificados na linha de partida passei o tempo, imagine-se, a bocejar! O sono sobrepunha-se à ansiedade e o Paulo gozava com a situação. Dado o tiro, demoramos 12 (!!) minutos a cruzar a linha de partida. O que vale é que o tempo oficial é o do chip.
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Tínhamos combinado rolar os primeiros 10kms a 5:15-5:20, mas perante tamanha multidão a única preocupação era arranjar forma de, em primeiro lugar, conseguir correr e, em segundo lugar, arranjar forma de ultrapassar os mais lentos.
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Excuse me daqui, excuse me dali, empurra um, empurra outro, trava, desvia, sobe barranco, desce passeio, quando de repente o GPS apita o primeiro km a 4:35. Digo ao Paulo para abrandar, e quase atropelo um palerma que já ia a passo. Os kms sucedem-se mais lentos mas sempre abaixo dos 5:00min/km.

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Após salva de palmas e parabéns por parte de todos os presentes perguntei ao noivo se ele teria condições para correr a maratona no caso de a noiva ter recusado o pedido, e se tinha na mochila um autocolante a dizer “just dumped”. Gargalhada geral e comentário do motorista, também maratonista, o italiano Joe: this portugueses are all comedians.
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No autocarro conhecemos um outro membro do GNBTC: um americano residente em Lisboa que é nada mais nada menos do que o editor em Portugal do Dean Karnazes e que quando soube que eu era português me disse: “já sei de onde me lembro da tua cara; na vépera da Maratona do Porto compraste-me um livro do Dean. Ias com uma criança pela mão”. Pôrra! Ele há gajos com memória de elefante; ou então foi o único livro que vendeu :)
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Disse-me que vai editar em português o DVD do Karnazes e garantiu-me que podemos contar com eles – Peter Cooper e Dean Karnazes – na próxima edição da Maratona do Porto.
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Mais uma banana, mais um café, mais uma mijinha, mais um gatorade, mais uma barrinha, mais uma foto, mais uma conversa e lá chegaram as 10:00h – hora de partida dos 14.000 atletas que se qualificaram.
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Às 10:30h, enquanto esperava juntamente com os outros 13.000 não qualificados na linha de partida passei o tempo, imagine-se, a bocejar! O sono sobrepunha-se à ansiedade e o Paulo gozava com a situação. Dado o tiro, demoramos 12 (!!) minutos a cruzar a linha de partida. O que vale é que o tempo oficial é o do chip.
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Tínhamos combinado rolar os primeiros 10kms a 5:15-5:20, mas perante tamanha multidão a única preocupação era arranjar forma de, em primeiro lugar, conseguir correr e, em segundo lugar, arranjar forma de ultrapassar os mais lentos.
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Excuse me daqui, excuse me dali, empurra um, empurra outro, trava, desvia, sobe barranco, desce passeio, quando de repente o GPS apita o primeiro km a 4:35. Digo ao Paulo para abrandar, e quase atropelo um palerma que já ia a passo. Os kms sucedem-se mais lentos mas sempre abaixo dos 5:00min/km.
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O povo é mais que muito, na corrida e fora dela, o Paulo e eu temos que gritar para nos fazermos ouvir, tal a algazarra de sinos, cornetas, trombetas, bandas, gritos, enfim.
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Começo a insistir com o Paulo para que ele siga a corrida dele e aos 7km abrando mesmo para o forçar, pois já tinha percebido que o estava a travar. Despedimo-nos e foi a última vez que soube dele. Até ao final da prova, bem entendido.
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Retomei o ritmo e comecei a fazer contas de cabeça. A achar que era possível fazer 3:30h se aguentasse bem até à meia. O dia é feriado e as famílias saem entusiasticamente à rua apoiando, oferecendo água, laranjas, bananas, cefé, cerveja (!), colocando cartazes de incentivo e de paródia: “shortcut” (a apontar para um bosque), “Obama says we can, but Kenyans take it all”, e muitos outros.
O povo é mais que muito, na corrida e fora dela, o Paulo e eu temos que gritar para nos fazermos ouvir, tal a algazarra de sinos, cornetas, trombetas, bandas, gritos, enfim.
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Começo a insistir com o Paulo para que ele siga a corrida dele e aos 7km abrando mesmo para o forçar, pois já tinha percebido que o estava a travar. Despedimo-nos e foi a última vez que soube dele. Até ao final da prova, bem entendido.
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Retomei o ritmo e comecei a fazer contas de cabeça. A achar que era possível fazer 3:30h se aguentasse bem até à meia. O dia é feriado e as famílias saem entusiasticamente à rua apoiando, oferecendo água, laranjas, bananas, cefé, cerveja (!), colocando cartazes de incentivo e de paródia: “shortcut” (a apontar para um bosque), “Obama says we can, but Kenyans take it all”, e muitos outros.
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Lá passei a meia com 1:40 e comecei a gerir o esforço, abrandando e bebendo em todos os abastecimentos, até que por volta dos 30km aparece a famosa Heart Break Hill, uma subida de cerca de 2km que faz as primeira vítimas. O final da mesma coincide com a entrada em circuito urbano, com a presença de muitos milhares de espectadores numa gritaria ensurdecedora e utilizando megafones com palavras de incentivo dizendo que passamos o pior, que agora está praticamente feita a maratona. A verdade é que acreditamos e todos aceleramos, eu chego a fazer os meus dois kms mais rápidos até ao momento, ainda faço mais um e mais outro, até que caio em mim e percebo que ainda faltam 6 ou 7 kms. Da cintura para baixo, tudo me dói (tudo excepto … bom, adiante. O joelho esquerdo ferve e é regado com dois copos de água em todos os abastecimentos desde antes da meia. Os quadriceps estão plásticos. Vejo gente a cair, como verei até aos últimos metros da prova, e começo a temer uma dor forte ou uma cãibra. Lá me aguento e corto a meta com 3:24:06, com 42.660m no meu GPS, provavelmente devido às centenas de esses que fiz durante toda a prova para poder ultrapassar multidões.
Lá passei a meia com 1:40 e comecei a gerir o esforço, abrandando e bebendo em todos os abastecimentos, até que por volta dos 30km aparece a famosa Heart Break Hill, uma subida de cerca de 2km que faz as primeira vítimas. O final da mesma coincide com a entrada em circuito urbano, com a presença de muitos milhares de espectadores numa gritaria ensurdecedora e utilizando megafones com palavras de incentivo dizendo que passamos o pior, que agora está praticamente feita a maratona. A verdade é que acreditamos e todos aceleramos, eu chego a fazer os meus dois kms mais rápidos até ao momento, ainda faço mais um e mais outro, até que caio em mim e percebo que ainda faltam 6 ou 7 kms. Da cintura para baixo, tudo me dói (tudo excepto … bom, adiante. O joelho esquerdo ferve e é regado com dois copos de água em todos os abastecimentos desde antes da meia. Os quadriceps estão plásticos. Vejo gente a cair, como verei até aos últimos metros da prova, e começo a temer uma dor forte ou uma cãibra. Lá me aguento e corto a meta com 3:24:06, com 42.660m no meu GPS, provavelmente devido às centenas de esses que fiz durante toda a prova para poder ultrapassar multidões.
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Fico em 5577º de entre 22.849 atletas classificados abaixo das 6:30h, o que me coloca em 3º dos 8 portugueses presentes, sendo que fiz uma prova literalmente de trás para a frente, não passando 10s sem fazer uma ultrapassagem, e nunca tendo sido ultrapassado durante toda a prova. Poupo-vos aos pormenores emotivos e demasiadamente pessoais da chegada bem como ao frio e vento que enfrentei durante a prova, não sem antes vos dizer que o Paulo já se encontrava à minha espera, tendo registado um tempo oficial de 3:09:06, tendo sido o melhor português e, já agora, o tempo mais rápido de todos os que se deslocaram no autocarro do GNBTC. Classificou-se em 2562º.
Fico em 5577º de entre 22.849 atletas classificados abaixo das 6:30h, o que me coloca em 3º dos 8 portugueses presentes, sendo que fiz uma prova literalmente de trás para a frente, não passando 10s sem fazer uma ultrapassagem, e nunca tendo sido ultrapassado durante toda a prova. Poupo-vos aos pormenores emotivos e demasiadamente pessoais da chegada bem como ao frio e vento que enfrentei durante a prova, não sem antes vos dizer que o Paulo já se encontrava à minha espera, tendo registado um tempo oficial de 3:09:06, tendo sido o melhor português e, já agora, o tempo mais rápido de todos os que se deslocaram no autocarro do GNBTC. Classificou-se em 2562º.
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Nós com o Fernado, após a prova.
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No dia seguinte, já no avião, recebo das mãos da hospedeira o jornal The Boston Globe, com uma separata inteiramente dedicada à Maratona, incluindo a listagem de todos os atletas que concluíram a prova, de onde constam o do Paulo e o meu próprio.
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No dia seguinte, já no avião, recebo das mãos da hospedeira o jornal The Boston Globe, com uma separata inteiramente dedicada à Maratona, incluindo a listagem de todos os atletas que concluíram a prova, de onde constam o do Paulo e o meu próprio.
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Para recordar até ser velhinho.
Para recordar até ser velhinho.